Por que o Curiosity é tão importante para a ciência?
São Paulo - O pouso do jipe-robô Curiosity na madrugada desta segunda-feira (6) foi acompanhado com tensão pelo mundo por causa da complexidade da manobra. Quando a Nasa confirmou que Curiosity já estava em solo marciano, a central de controle do Mars Science Laboratoty, em Pasadena, Califórnia, foi a loucura. Passada a emoção, fica a pergunta: mas por que o Curiosity é tão importante para a ciência?
José Leonardo Ferreira, doutor em Ciências Espaciais e professor do Instituto de Física da Universidade Brasília (UnB), esclarece essa questão. "Este foi sem dúvida um grande feito da tecnologia espacial e também da robótica", conta. Além disso, o Curiosity representa um grande passo da Nasa para a colonização do planeta nos próximos séculos.
A exploração espacial de Curiosity – A partir de agora, o Curiosity inicia uma missão de dois anos em Marte. Durante esse período, o jipe-robô vai explorar a região conhecida como Cratera Gale, onde possivelmente existiu um grande lago. O objetivo é tentar descobrir se Marte já teve um ambiente capaz de suportar vida microscópica e se tem condições que preservaram os seus indícios.
Essa busca só é possível graças a outros instrumentos que estudam Marte desde 1957, quando a antiga União Soviética e os Estados Unidos da América começaram uma das grandes competições da história: a corrida espacial.
Porém, o primeiro robô a chegar a Marte foi o Soujorne, de 1997. “Ele possibilitou manobras de exploração das rochas e locais da superfície de Marte”, conta Ferreira. Os robôs exploradores, como o Spirit e Opportunity chegaram ao planeta vermelho apenas em 2003, quando realmente começou a prospecção geológica no local.
O detalhamento das propriedades de Marte tem vários objetivos, como o mapeamento do solo do planeta, o estudo de sua evolução geológica e da constituição de sua atmosfera com precisão. Além de tudo isso, claro, está a busca da existência de água para responder uma grande questão: se há ou houve vida no planeta.
Os robôs Spirit e Opportunity estão lá até hoje. “Eles produziram resultados fundamentais para o entendimento da evolução do planeta, como evidências de oceanos e lagos que podem ter existido há milhões de anos”, explica.
A estrela da vez, Curiosity, dará continuidade ao trabalho dos outros robôs. Ele só pousou na Cratera Gale graças à missão Mars Express (2003) da ESO (Agência Espacial Européia) e da Mars Reconnaissance (2006). “Elas foram importantes para a escolha do local que possui formações geológicas que indicam a existência de um grande lago no passado de Marte e possui evidências de erosão provocadas pela água que poderiam abrigar até mesmo vida bacteriana”, explica Ferreira.
Graças a isso, o Curiosity ficará na cratera durante toda sua jornada e usará um instrumento para perfurar o solo em busca destas evidências para tentar resolver mistérios de uma nova área das Ciências Espaciais: a Astrobiologia, que busca comprovar que houve vida no passado de Marte. Mas, que devido a características específicas do planeta, como ausência de campo magnético, essa vida não evoluiu.
Segundo Ferreira, a missão do Curiosity é extremamente importante porque “representa a perspectiva da Nasa de enviar uma missão científica com astronautas para começar o estabelecimento de laboratórios permanentes. Por sua vez, eles irão permitir a colonização do planeta nos próximos séculos”, explica.
A importância do pouso de Curiosity - O Engenheiro Adam Steltzer, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), caracterizou a entrada da nave na atmosfera de Marte e seu posterior pouso como “Os 7 minutos de terror”.
“Ele tem razão, pois para desacelerar a nave com 21.000km/h, ela precisou ser “freada” para 1.700km/h na atmosfera de Marte, o que impõe a resistência do artefato para temperaturas acima de 2500 ºC. Qualquer objeto espacial sofreria esse mesmo impacto durante a reentrada na atmosfera da Terra”, explica.
Depois desse começo bem sofrido, o paraquedas da nave ainda precisou abrir sozinho. O guindaste voador e o jipe-robô se desprenderam a 1 minuto do pouso e os propulsores do guindaste foram acionados.
Ferreira explica que, pendurado a 20 metros da superfície, a velocidade já diminuiu para 2,7km/h para que o guindaste voador deixasse Curiosity no solo marciano e fosse para bem longe para evitar colisões com o jipe-robô. “Este foi um grande feito porque os computadores de bordo devem tomar as decisões em poucos segundos e o sistema tem que ser quase imune a falhas de todo tipo” conta.
Para piorar a situação, por causa da distância entre a Terra e Marte, as ondas eletromagnéticas levam 15 minutos para atingir Marte. Isso impossibilita o envio de comandos em tempo real. “As imagens da equipe da missão no centro de controle da Nasa durante os momentos de Terror mostraram o alívio e a comemoração pelo pouso tão importante e bem sucedido”, diz Ferreira.
Crédito da imagem: Arquivo pessoal/José Leonardo Ferreira
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